4 abordagens criativas que geram ideias inovadoras

Abordagens que podem ajudar você ou sua empresa a destravarem a criatividade

Criatividade

O potencial de uma empresa para buscar, desenvolver e aplicar soluções criativas é, cada vez mais, determinante para sua trajetória no mercado. Essa necessidade esbarra, no entanto, na tendência ao pensamento incremental que domina na maioria das empresas. 

Mas, como eu trouxe em um conteúdo recente, esse pensamento linear (constante, gradativo e tradicional) restringe a criatividade e não dá abertura para ideias que levam a melhorias. Isto é, à inovação. 

É verdade que é tentador e parece ser mais seguro ficar na prática incremental do que expandir o pensamento e adotar abordagens criativas. A barreira principal é formada por preconceitos que distorcem nossas percepções e nos impedem de ver possibilidades. 

Viagens à Lua, fotografia instantânea e foguetes espaciais reutilizáveis já foram consideradas ideias inimagináveis, impraticáveis, loucas. Os Estados Unidos enviaram homens ao espaço, a câmera Polaroid revolucionou o mercado e SpaceX foi criado. 

A ciência cognitiva vem evoluindo muito com a revolução digital, novos hábitos e perfis de consumo, visões mais empáticas e sustentáveis para o planeta, mas a realidade é que ainda não nos apoderamos da inovação com perspectivas e ferramentas que permitam grandes saltos comportamentais. 

Na busca por soluções criativas, a maioria de nós ainda cai em armadilhas cognitivas que reforçam tendências a: 

  1. Disponibilidade: substituir dados disponíveis por dados representativos; 
  2. Familiaridade: sobrevalorizar as coisas que já conhecemos; 
  3. Confirmação: pensar como novas informações comprovam nossas crenças existentes. 

Meu objetivo aqui é compartilhar algumas abordagens que podem ajudar você ou sua empresa a desviar dessas armadilhas. Mas, antes, te proponho uma reflexão: 

Imagine que o chefe da inovação da sua empresa forma uma equipe multifuncional e propõe um desafio audacioso: reinventar completamente os negócios. 

Nessa situação hipotética, reflita sob uma das duas óticas: 

  1. Se você é o líder/dono: sua empresa incentiva novas ideias e abordagens, utiliza ferramentas de design thinking e estimula soluções com protótipos e técnicas de empresas exponenciais? 
  2. Se você é liderado/funcionário: você se sente livre para pensar e propor ideias no ambiente em que atua ou estaria estimulado a pensar novos conceitos, modelos de negócio ou produtos?   

Independente da sua posição ou sentimento, as táticas e ferramentas abaixo são um desafio ao nosso instinto natural de evitar riscos e escolher o caminho fácil. Por outro lado, se utilizadas da forma correta, são oportunidades para gerar, de fato, ideias inovadoras. 

Quebre situações complexas em elementos básicos (primeiros princípios) 

O raciocínio a partir dos primeiros princípios é uma das melhores maneiras de fazer engenharia reversa de problemas complicados e liberar possibilidades criativas. Quando você está fazendo algo pela primeira vez, lidando com algo complexo ou tentando entender uma situação problemática experimente essa abordagem de “primeiros princípios”. Reexamine os princípios fundamentais sobre o tema e, em seguida, redesenhe a partir do zero. O foguete reutilizável da SpaceX surgiu disso. Elon Musk queria comprar foguetes russos, mas foi recusado. Depois de ler sobre os fundamentos de propulsão, aerodinâmica, termodinâmica e turbinas a gás, ele reduziu foguetes a seus princípios básicos em uma planilha e, com essa análise, sua equipe surgiu com uma maneira de desenvolver foguetes acessíveis e reutilizáveis usando componentes de nível comercial mais simples. A SpaceX realizou mais de 60 voos bem sucedidos e 29 desembarques, salvando a NASA, seu principal cliente. 

Inspire-se (e utilize) a ficção científica 

Ficção científica ajuda a embarcar em viagens mentais no tempo e sonhar com aquilo que pode ser possível. Ursula Le Guin, autora de ficção científica, disse que escreveu no gênero para desalojar a mente “do hábito preguiçoso e temoroso de pensar que a maneira como vivemos agora é a única maneira que as pessoas podem viver”. A ficção científica imaginou ou inspirou avanços, como telefones celulares, cartões de crédito (descritos em uma sociedade futurista de um romance do século 19 de Edward Bellamy), robôs (criados em uma das peças do início do século 20 de Karel Čapek), entre tantos outros. Não há magia, apenas inspiração. Se uma empresa utiliza isso, fazendo um planejamento rigoroso da concepção ao lançamento, pode criar soluções muito inovadoras.    

Como o Google nunca faria isso? 

Essa ferramenta é simples, mas pode ser muito estratégica para encontrar abordagens criativas e gerar ideias inovadoras. As analogias já levaram a muitos avanços no universo dos negócios. A corretora de valores americana Merrill Lynch (fundada por Charles Merrill e Edmund Lynch) revolucionou o mercado de ações aplicando a analogia de um supermercado: assim como nas gôndolas, o consumidor comum passou a ter acesso aos produtos financeiros e escolher seus ativos entre uma série de produtos e marcas. Também por analogia, Uber e Airbnb estimularam o surgimento de empresas similares com o conceito de “economia compartilhada”. E vale para uma espécie de “analogia reversa”, o como não fazer algo. Ao invés de pensar em “como fazer”, experimente raciocinar “como o Google nunca faria isso?” ou “que abordagem essa empresa que faliu ou perdeu valor/espaço tentou?”. 

Explore a adaptação reversa (exaptação) 

Ao procurar avanços, as oportunidades disponíveis geralmente são determinadas pelos elementos com os quais você começa. Por isso mesmo, tendemos a ver apenas os usos óbvios desses componentes. A chave desse processo é descobrir usos completamente diferentes. Na biologia evolutiva, essa é a exaptação, ou seja, uma característica do organismo adaptada a responder a um desafio do meio (cuja pressão seletiva foi determinante), ser efetiva também em um outro contexto de uso. Exemplo, as penas das aves, cuja função inicial pode ter sido fornecer calor, tornaram-se a chave para o voo na idade adulta. Para aproveitarem essa ferramenta, pessoas inovadoras podem começar questionando porque usamos algo para um propósito e não para outro. Jeff Bezos aplica isso na Amazon, buscando se “mover nas adjacências”. O Kindle é um exemplo. A Amazon não tinha experiência em hardware, mas observou uma necessidade do cliente. Assim, desenvolveu as habilidades, criou e lançou o produto. 

Essas são quatro abordagens de inovação que ajudam a compreender, em síntese, que temos uma inclinação natural para manter o que sabemos, mas precisamos desviar de preconceitos cognitivos para ganhos reais em criatividade. 

Fica a lição: independentemente de usar uma dessas ou outras abordagens o foco é deixar a ideia voar e sempre pensar no que poderia ser (e não no que é, no que está pré-concebido, pronto). 

Só dá para ser exponencial – como pessoa, profissional, líder ou empresa – se abandonar o pensamento incremental, lidar com o medo do fracasso e experimentar. 

E eu acredito que você, eu, o mercado, os países e a sociedade precisamos urgentemente de novas abordagens criativas e de muitas ideias inovadoras para evoluirmos de maneira genuína e veloz. Mais do que imaginar cenários, é necessário criarmos o futuro que realmente desejamos.