Por que alfabetização no futuro é algo que precisamos fazer no presente?

Principal habilidade para lidar com o mundo pós-pandêmico.

Futuro

Alfabetização em futuro nos dá consciência sobre o que gera nossas esperanças e medos, aprimorando nossa capacidade de aproveitar melhor e mais plenamente as escolhas que fazemos agora.  

Parece incongruente, mas quando adquirimos essa “disciplina da antecipação”, conseguimos conectar horizontes de tempo a curto e longo prazos em uma trajetória mais sustentável. 

Afinal, há muita incerteza sobre o futuro. Pandemias, crises econômicas, discrepância entre realidades sociais, conflitos de gerações, racismo, opressão ideológica e de gênero. Muitos fatos nos deixam menos otimistas com planos, menos confiantes com o amanhã e menos seguros com o que vem pela frente, é verdade.  

A consequência lógica é que, ao desenvolver a habilidade de “usar o futuro”, seremos capazes de aproveitar as oportunidades do amanhã a partir (e não apesar) das mudanças, experimentações e novidades. Faz sentido para você? 

Para mim, faz. E muito! Ser alfabetizado em futuros não só fortalece a imaginação como aumenta nossa capacidade de nos prepararmos, recuperarmos e reinventarmos de acordo com as circunstâncias, que mudam a todo instante.  

Pode parecer difícil em um primeiro momento, sobretudo porque no último século os esforços para pensar sobre o futuro navegaram pela incerteza e tentaram colonizar o amanhã com as ideias do hoje. 

Mas essa pobreza de imaginação precisa ser superada porque ela é um grave problema.  

Eu particularmente gosto muito da forma como a UNESCO organizou os benefícios de alfabetizar indivíduos, comunidades, empresas e governos em futuros.  
 
Em resumo, a organização consegue elencar o empoderamento que há em desenvolver essa habilidade. Trago aqui alguns pontos que a alfabetização em futuros, na minha opinião, é mais significativa e transformadora: 

  • Inovação: fica mais fácil inovar e tirar vantagem dessa inovação 
  • Descoberta: é essencial para detectar e entender novidades e surpresas 
  • Liderança: difunde iniciativa e experimentação em toda comunidade 
  • Estratégia: faz conseguir enxergar genuinamente estratégias e alternativas 
  • Sabedoria: proporciona várias maneiras de conhecer o mundo ao nosso redor, incluindo emoções e contextos específicos 

A provocação que coloco neste artigo é exatamente a de que essa habilidade de imaginar o futuro literalmente nasceu com você, comigo e com todo ser humano. Futures Literacy é algo inato e que precisamos aprimorar como oportunidade de compreender a formulação dos nossos desejos.  

Afinal, quanto melhores nos tornamos em compreender as diferentes explicações e métodos para imaginar o futuro, menos razões teremos para temer o futuro. Decidir como usar o futuro nos deixa mais à vontade com novidades e experimentações e menos ansiosos com a incerteza.  

É verdade que a maioria dos sistemas educacionais continua a reprimir a criatividade, a imaginação e o pensamento crítico. Mas não à toa Em 2020, o Fórum Econômico Mundial aprontou futures literacy como a principal habilidade para lidar com o mundo pós-pandêmico.   

A pandemia de Covid-19, inclusive, intensificou a percepção de que as velhas maneiras de usar o futuro não são mais adequadas. Há necessidade urgente de transformar a governança humana. Todos devemos ser capacitados para usar o futuro de forma mais eficaz. É necessário ir além da dependência de uma certeza ilusória e da fragilidade criada com isso. 

A alfabetização em futuro tem um potencial emancipatório. É sobre liberdade e diversidade. Por que e como usamos o futuro? Só conseguimos responder de forma eficiente se tomamos consciência das imagens que temos sobre o futuro e, ao mesmo tempo, aprendemos a reconhecer e a utilizar isso para inovar agora. 

Riel Miller, “pai” da alfabetização no futuro, define de forma simples a importância dela: as imagens que temos sobre o futuro enquadram o que vemos e fazemos no presente. 

E por isso, depois de tomar consciência sobre as imagens que temos do futuro, precisamos nos envolver em um processo de ressignificação. Reenquadrar não é apenas um processo de pensar fora da caixa, mas sim conceber um quadro radicalmente alterado.  

Só assim não ficamos concentramos em um “futuro possível” (o que é mais provável de acontecer) ou “normativo” (o que precisa ser feito), e nos envolvemos com um futuro inesperado e totalmente transformado. 

Abraçar a complexidade e a incerteza desse futuro nos torna capazes de repensarmos nossas opções e escolhas.  

E a UNESCO tem demonstrado que é possível usar o futuro. Com atividades estruturadas de aprendizagem, pessoas descobrem as origens e o poder do que imaginam.  

A organização formata verdadeiros Laboratórios de Alfabetização em Futuros nos quais utiliza a inteligência coletiva para cocriar o significado de conceitos como sustentabilidade, paz e inclusão.  

Espero que esse movimento dissemine cada vez mais uma consciência coletiva de que, assim como estabelecer a leitura e a escrita universais, democratizar a alfabetização em futuros abre novos horizontes.  

Aproveite essa leitura e busque se desafiar. “Brinque” com suposições desconhecidas sobre o futuro, estimule em si mesmo a capacidade de identificar novas oportunidades, de catalisar o presente com essas imagens e de inventar e moldar novos mundos de possibilidades. 

Alfabetização no futuro é o que precisamos fazer agora!